Realismo e Naturalismo
A presença deles no nosso dia-a-dia
Chorão estava em depressão por causa de divórcio, diz Sonia Abrão
Chorão e a mulher, a estilista Graziela Gonçalves, durante festa de aniversário de Marcos Mion em São Paulo. O casal se separou no final de 2012
As causas da morte de Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., ainda estão sob investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), mas segundo informações da apresentadora Sonia Abrão, prima do cantor, ele estava em depressão por causa de problemas pessoais envolvendo divórcio da mulher, a estilista Graziela Gonçalves. Chorão deixa o filho Alexandre, de 23 anos.
"Ele ainda gostava muito dela, não estava conseguindo superar esta fase. Ele deve ter tido uma crise de desespero forte e de solidão. Ele não tinha noção que estava numa situação de limite", disse Sônia Abrão. Chorão e a mulher se separaram em meados de novembro do ano passado.
Em dezembro, Chorão confessou ao site do "Caldeirão do Huck" que ainda gostava muito da ex-mulher, mas que estava se sentindo bem solteiro. "Foram muitos anos de relacionamento. Eu gosto muito dela, mas não tem jeito, chegou ao fim", disse ele na ocasião.
Segundo o delegado Itagiba Franco, da Polícia Divisionária do Departamento de Homicídios, paramédicos encontraram o músico de bruços no chão da cozinha, com as mãos machucadas e já sem vida, sozinho em casa. O apartamento que fica no oitavo andar estava revirado, sujo e havia muitos vestígios de sangue.
Chorão foi encontrado morto no final da madrugada desta quarta-feira (6), no apartamento onde morava em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. O corpo foi levado para o IML (Instituto Médico Legal) para fazer necropsia e o laudo deve sair em 30 dias. O velório será realizado no Ginásio Arena Santos.
Corpo deteriorado
O corpo do músico, que foi encontrado de bruços no chão da cozinha, estava cercado por lascas que aparentam ser parte do enchimento de um saco de pancadas de boxe.
A lateral do abdome do corpo apresentava hematomas, e metade do rosto estava deteriorada e coberta por sangue. O dedo mínimo da mão direita também aparentava estar quebrado. No balcão da cozinha, próximo ao corpo, havia uma pequena quantidade de pó branco em cima de um catálogo de filme pornô, ao lado de um canudo feito com uma folha de cheque.
Fonte: uol
COMENTÁRIO
Tragédia nos Andes: O canibalismo como salvação
Um acidente aéreo ocorrido nos Andes em 1972 provocou um debate mundial em torno de um dos maiores tabus da Humanidade: o canibalismo. Foi comendo carne humana, como se soube depois, que os sobreviventes da queda de um Fairchild da Força Aérea do Uruguai conseguiram manter-se vivos durante 69 dias nas montanhas geladas entre Montevidéu e Santiago, até serem resgatados por helicópteros chilenos. O fato, chocante, foi explorado à exaustão pela mídia, que ouviu religiosos, psiquiatras, juristas e médicos. Após a polêmica, fez-se um silêncio tácito até que, três anos depois, o lançamento do livro "Os Sobreviventes", escrito pelo inglês Piers Paul Reed a partir de relatos dos protagonistas da tragédia, esquentou novamente o debate: dessa vez, discutia-se se era lícito aos sobreviventes ganhar dinheiro com um incidente do qual eles só haviam saído vivos por terem recorrido aos companheiros de vôo para se alimentar. O caso ainda rendeu mais um livro e dois filmes: o ruim "Sobreviventes dos Andes", de 1976, e "Vivos", de 1993.
A tragédia dos Andes começou no dia 13 de outubro. Uma falha no motor provocou a queda do Fairchild quando o avião sobrevoava a cordilheira, com 45 pessoas a bordo: cinco tripulantes e 40 passageiros - jovens jogadores de um time uruguaio de rugby, o Old Christians, que faria uma partida em Santiago, acompanhados de parentes e amigos. Vinte e uma pessoas morreram na queda ou em conseqüência dela. Dos outros 24, oito seriam soterrados alguns dias depois, vítimas de uma avalanche. Os restantes, duas vezes sobreviventes, ainda tiveram que superar uma notícia desastrosa, ouvida do rádio ligado à bateria do avião: as buscas, depois de oito dias, estavam sendo suspensas.
Abandonados, os jovens, quase todos filhos de famílias ricas e de classe média alta de Montevidéu, se organizaram: a água era obtida derretendo-se a neve. Em relação à comida, diante do desespero, optou-se por uma medida extrema: alimentar-se da carne dos mortos, mantida congelada sob a neve. "Não havia tempo para pensar no que ao mundo pudesse parecer correto ou não", disse anos depois Roberto Canessa, na época estudante de medicina. Ele e Fernando Parrado foram figuras fundamentais no desfecho do episódio - depois de 59 dias nas montanhas, saíram andando, dispostos a chegar a algum lugar. Dez dias depois, avistaram um camponês. Fracos para gritar, lançaram uma pedra com um bilhete, que terminava com um desesperado "por favor, venham nos apanhar".
Foram, e o mundo conheceu os momentos de horror por que haviam passado. Por trás do "milagre de Natal", como inicialmente se tratou do caso, veio à tona a terrível realidade da antropofagia.
Fonte: O Globo 2000 - fascículo 26