Micro Histórias
Para ler primeiro e pensar depois
Nº14 - A Solidão dos Gémeos Falsos
Associam-se habitualmente aos irmãos gémeos a ideia de haver laços de grande cumplicidade, que podem estender-se à partilha de sentimentos, e inclusivamente ao próprio estado físico. Por isso, se levarmos a ideia de gémeos falsos num sentido literal como será essa relação entre os dois irmãos? E se estes em vez da partilha preferissem a solidão e a autonomia relativamente ao respetivo irmão?
Essa foi uma ideia lançada para este desafio e muita foi a criatividade dos cinco micro contos escolhidos: José Eduardo Lopes brinca com a identidade e género, Gisela Estrada centra-se na ideia de solidão, Pedro Preto traz-nos de forma desconcertante o tema através do físico de um atleta, Álvaro Silveira opta pelo momento do nascimento e Luís Nogueira prefere explorar o tema da forma mais ambígua.
Micro contos
Os autores
Eram gémeos falsos, um rapaz e uma rapariga; para frustração dos pais, que lhes deram nomes idênticos e os vestiam de igual. Aos três anos, o rapaz revoltou-se e negou-se a vestir saias
Autor: José Eduardo Lopes
Quem é? Caldense e contoador de histórias breves como o tempo
Gémeos falsos, gémeos verdadeiros, o que interessa. A solidão não se compadece com considerações genéticas. Eu e tu estamos sós, tão sós como quando demos o primeiro grito
Autora: Gisela Estrada
Quem é? Era apaixonada pelas palavras; elas retribuíam, suavizando-lhe o caminho.
O atleta Óscar Pistorius marcou o ano olímpico, apesar da controvérsia. Correu na maior das solidões, usando gémeos falsos
Autor: Pedro Preto
Quem é? Vê na fotografia e na escrita a verdadeira fonte criativa.
Foram iguais ao nascer, com 10 minutos de diferença apenas. Tal como na vida. Um tropeçou, outro caiu logo de seguida.
Autor: Álvaro Silveira
Quem é? Parte e reparte, ficando com as melhores partes dos diversos mundos com que interage
Diziam-se gémeos falsos, e todos acreditavam, mas a verdade é que eram irmãos falsos: filhos únicos que se revoltaram contra a sua solitária condição.
Autor: Luís Nogueira
Quem é? Escreve porque não sabe fazer mais nada. Escreve pouco porque tem muito para dizer.