A literatura de Manoel de Barros
a (re) criação da palavra
Manoel de Barros e a arte de infantilizar palavras
O poeta Manoel de Barros em toda sua obra literária representa a necessidade de recriação da palavra para a expressão da relação entre o humano e a natureza. Essa relação se mistura de tal forma que é necessária a (re)criação da palavra para entender o que se manifesta na natureza de delicado, de inocente e de infantil dentro do próprio humano. No prefácio do livro "Menino do Mato", Regina Ziberman aponta que Manoel de Barros ambiciona "perturbar 'os sentidos normais da fala', porque se trata de 'palavras abençoadas pela inocência', inocência que conheceu na infância, em um universo natural e puro, distante da civilização moderna, que depaupera as palavras, ao deixá-las 'bichadas de costumes'".
Retrato do artista quando coisa
Não ser é outro ser.
Fernando Pessoa
Retrato do artista quando coisa: borboletas
Já trocam as árvores por mim.
Insetos me desempenham.
Já posso amar as moscas como a mim mesmo.
Os silêncios me praticam.
De tarde um dom de latas velhas se atraca
em meu olho
Mas eu tenho predomínio por lírios.
Plantas desejam a minha boca para crescer
por de cima.
Sou livre para o desfrute das aves.
Dou meiguice aos urubus.
Sapos desejam ser-me.
Quer cristianizar as águas.
Já enxergo o cheiro do sol
Manoel de Barros - Documentário 'Só dez por cento é mentira'.