CRÔNICA
Ter saudades
Tenho saudades
Do que realmente sentimos quando sentimos saudades? Acabo de assistir um filme bem interessante. Em “O Paraiso é logo aqui”, o personagem volta a sua casa de infância por uma razão específica, e ao entrar na sala que antes era seu quarto, ele diz a seguinte frase: não sinto nada. Entranho porque, apesar de não saber o que sentiria, com certeza alguma coisa deveria sentir. Quando retornei à uma cidade bem pequena no interior de minas, na qual morei quando bem criança, pedi para minha mãe me guiar até a casa que tinha somente recordação em fotos e histórias inesquecíveis. Quando cheguei lá, tive a seguinte percepção: pensei que fosse bem maior. Bem, ela está do mesmo tamanho, até do mesmo jeito por sinal, mas eu era bem menor. Claro que tive uma sensação gostosa, confesso; assim como quando sinto aquele cheiro que remete à época de infância; como quando encontramos aquele presente antigo dado por alguém muito especial. Lugares que um dia visitamos. Não que esse lugar nos dê o mesmo prazer que hoje. Não que esse presente hoje me sirva. De forma alguma. Pra falar a verdade, esse lugar nem me pertence mais. Não caibo mais nesse brinquedo, nessa blusa. Não me entretêm mais essas gravuras coloridas. Mas então por que me faz tão bem? Simplesmente, sinto saudades. Não estou dizendo que devemos deixar de trazer pra mais perto o que sentimos falta. Mesmo porque tem algo de muito positivo nessa busca: sentimos que devemos crescer. Se hoje me parece pequeno porque eramos pequenos, é porque temos que renovar pra continuar crescendo, e só percebemos isso quando reconquistamos o objeto de nossa saudade. Sentir saudades é o prazer sinto ao lembrar do prazer que sentia, e isso nunca vai mudar de tamanho. Pode passar o tempo, a saudade sempre vai me acompanhar. Não quero deixar de sentir saudades.